No artigo 5º da Constituição Brasileira (1988) está escrito:
“VI
- é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado
o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”
Neste cenário atual de crise econômica e política, alguns fantasmas retomam suas vestes brancas e parecem querer assumir suas posições fantasmagóricas no âmbito de nossa política nacional. Um, dentre estes fantasmas, como o reacionarismo, o anti pluralismo racial, religioso, étnico e de pensamento, volta com toda a força como se, há muito, estivesse acorrentado, raivoso e sedento. As discussões sobre o fim do Estado laico, que é aquele que se caracteriza pela neutralidade religiosa, onde o indivíduo possui liberdade de crença, culto e principalmente; direito de exprimir sua liberdade, estão abastecendo as pautas fundamentalistas nos porões do plenário. Liderados de forma pedagógica pelo ultra religioso Silas Malafaia, a bancada da Bíblia, tenta combater este tipo de "neutralidade do Estado".
|
Cenas da inquisição, início século XIII - Estado não intervém e igreja impõe a unicidade religiosa. |
Mas o que isto poderia significar para a pluralidade religiosa existente em nosso país?
Muitos hão de questionar sobre nossa identidade histórica como um país estritamente católico, assim, não seria necessariamente laico. Entretanto, se fizermos uma análise profunda vamos identificar que, culturalmente, o país foi adotando algumas comemorações, por exemplo, os feriados nacionais religiosos, como parte de uma identidade histórica voltada a uma religião específica. Herança dos tempos da colônia. Em vista deste fato, mesmo que comprove uma certa teocracia incrustada em nossa comunidade, há de se convir que a constituição de 88 objetivou um avanço nesta área, no sentido de dar garantias à todo e qualquer indivíduo, possuir ou não crenças. Participar ou não de cultos. Entretanto, nossa cultura religiosa, como característica do povo em termos gerais, nunca foi de segregação total ou proibição de manifestações crédulas ou não crédulas. Mas, com o advento de uma dinastia teocrática, baseada na força de um grupo emergente e fundamentalista em nosso país, os riscos de se criar uma figura governante de intolerância religiosa e social pode esmagar, primeiramente, as minorias não apenas religiosas como também outras minorias étnicas, sexuais e sociopolíticas. Baseando-se no direito do julgamento social através da crença, este grupo radical poderia não só cercear a liberdade teocrática, como impor suas condições idealísticas conservadoras. Talvez, não com o mesmo ímpeto do Estado Islâmico, "repito; talvez", mas com os mesmos fundamentos. Pois temos que nos lembrar que boa parte destes, são doutrinados ao combate físico e adeptos à ditadura e a pena de morte. Como é o caso do Sr. Deputado Jair Bolsanaro PP-RJ, que, empunhado com uma bíblia na mão e uma arma em outra, brada seu ódio contra pessoas que, por ventura, possuem um ponto de vista que não lhe é favorável.
|
Jair Bolsanaro PP-RJ. Adepto ao reacionarismo e pena de morte. Apesar de defender que, "bandido bom é bandido morto", é aliado do Deputado, presidente da câmara, Eduardo Cunha, do qual exclui do âmbito de sua teoria fundamentalista anti social. Pois neste caso aplica-se a frase apenas aos bandidos do "baixo clero". |
As características antidemocráticas e neofascistas destes discursos em tempos de crise não são exclusividades atuais. Aliás, os termos fascismo e nazismo, foram criados em uma determinada ocasião, onde a sociedade procurava e ansiava por um norte frente as crises sociais e políticas vivenciadas.
Em fim, sucumbir à este discurso conservador, impregnado de ódio e preconceito, sob a desculpa de se criar um "Estado de deus", contrapõe a verdadeira essência dos discursos de tolerância, perdão, desapego, coletividade e amor, profetizadas pelo maior símbolo mundial da fé Cristã. A criação de uma nova era de inquisição, preparada nos caldeirões do planalto, fomenta o discurso cada vez mais impávido da bancada fundamentalista religiosa da câmara dos deputados. O ódio a serviço de deus e não de Deus, pois este não o aceitaria.