Ivan Valente (SP), que é líder da bancada do PSOL na Câmara, apesar de divergir em vários aspectos quanto a postura adotada pelo PT em seu governo declarou que Dilma seria a melhor opção para o País, e listou 16 motivos.
Créditos: Terra.com
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Aécio é retrocesso e Dilma é "menos pior", diz Ivan Valente
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Beatriz Carrasco
Direto de São Paulo
No 1º turno das eleições, Luciana
Genro chamou atenção nos debates entre presidenciáveis ao abordar
questões da esquerda tradicional, como a reforma agrária, a demarcação
de terras indígenas, a desmilitarização da polícia e a criminalização da
homofobia. A candidata do PSOL terminou a disputa em 4º lugar, mas após
um acordo dentro do partido, resolveu não apoiar nenhum dos
concorrentes do 2º turno, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
Apesar da decisão, Luciana deixou em aberto para que
seus eleitores escolhessem entre o voto em branco, nulo ou em Dilma,
rejeitando a candidatura de Aécio. Pouco depois do anúncio, deputados
federais eleitos pelo PSOL declararam apoio direto a Dilma -
com uma série de ressalvas críticas
-, entre eles Jean Wyllys (RJ), Chico Alencar (RJ), Marcelo Freixo (RJ)
e Ivan Valente (SP), que é líder da bancada do partido na Câmara.
Ivan Valente foi reeleito deputado federal pelo PSOL e defende a ideologia de esquerda no Congresso
Foto: Shlo / Divulgação
Pouco antes de o Brasil decidir quem será o presidente nos próximos quatro anos, Valente recebeu a reportagem do Terra
em seu escritório em São Paulo, para analisar o cenário das eleições
deste ano. Ele, que deixou o PT em 2005 por divergências ideológicas,
resolveu apoiar Dilma e explicou seus porquês.
Veja abaixo 16 pontos analisados pelo deputado, da
influência das manifestações de junho de 2013 até a onda conservadora
que estará no Congresso no próximo ano, com figuras como Jair Bolsonaro
(PP) e Pastor Marco Feliciano (PSC).
1. Aécio Neves é avanço do conservadorismo no Brasil
Foto: Fernando Zamora/Futura Press
Segundo Valente, Aécio Neves representa um avanço
conservador no Brasil. Caso seja eleito, o tucano terá amplo apoio no
Congresso, já que também garantiram seus lugares vários nomes da direita
tradicional, como os deputados federais Jair Bolsonaro (PP-RJ), Pastor
Marco Feliciano (PSC-SP), e muitos candidatos do PSDB.
“O
Bolsonaro, que é um cara execrável, que defende a tortura, que é
homofóbico, racista, que despreza qualquer participação popular e que é
favor da repressão, fez uma declaração formal, dizendo que mesmo que o
Aécio não queira ele vai apoiá-lo”, disse. “Assim como todos os
pastorais que foram eleitos. Ainda não vi nenhum que disse que vai ficar
do lado de cá (de Dilma Rousseff)”, completou.
De acordo com Valente, a bancada conservadora trabalha o
senso comum e o que há de mais atrasado. “A candidatura de Aécio Neves
representa, realmente, um retrocesso”, destacou.
2. Grande mídia estimulou a onda anti-PT
Foto: Gabriela Biló/Futura Press
A grande mídia brasileira, que em sua maioria apoia
partidos conservadores como o PSDB, ajudou a criar a rejeição dos
eleitores em relação ao PT, apontou Valente. Isso porque existe uma
saturação sobre os escândalos petistas, mas por outro lado não são
noticiados os casos de corrupção que envolvem outros partidos, como o
PSDB, PMDB e DEM.
“O Eduardo Azeredo renunciou ao mandato (de deputado federal, no início deste ano) para se esconder debaixo do tapete. Ele que foi governador (de Minas Gerais) e presidente e fundador do PSDB. Isso não foi noticiado para a grande massa. Mas o José Dirceu e o (José) Genoino (ambos do PT) apareceram como pessoas que foram presas, o que é ‘o concreto’ para a massa”, observou.
Valente ainda analisou que Dilma não foi capaz de
empolgar o eleitorado, além de o PT perder “o timing”, em que não se deu
conta de que a discussão sobre o mensalão criou um caldo de cultura que
vazou para os trabalhadores, sem ficar apenas na classe média. “Falta
um tempero, uma mobilização, algo que diga que eles (PT) são realmente o novo”.
3. FHC demonstrou "preconceito brutal" contra nordestinos
Foto: Daniel Ramalho/Terra
Junto
à onda anti-PT, surgiu nas redes sociais uma série de comentários de
extremo preconceito contra nordestinos, após a vitória de Dilma no
primeiro turno da eleição presidencial na região. Na ocasião, o
ex-presidente pelo PSDB Fernando Henrique Cardoso falou: “não é porque
são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados”, comentário
que, segundo Valente, é “um preconceito brutal”.
“É um preconceito brutal, porque é fácil desmontar o argumento do Fernando Henrique Cardoso. Ele foi eleito com os votos do (extinto partido)
PFL, que era enorme na época. Eram votos do Inocêncio Oliveira, dos
coronéis do Nordeste. Nesse caso, eles não eram desinformados, não é? E
agora são? Ele (FHC) vai naquilo que está lhe afetando o calo. Então, se o PT melhorou condições de vida que eram muito precárias, eles (nordestinos) tendem a ter simpatia pelo PT”.
Para Valente, o discurso de FHC representa a base
reacionária e direitista do PSDB, que também se manifestou em Brasília,
no repúdio contra países que tentam se libertar do imperialismo, como
Venezuela, Equador e Bolívia. “Mesmo com a timidez da Dilma e da
política externa petista, ela é muito mais adequada para um país de
terceiro mundo, porque o Brasil ainda é, do que essa política de ser
subjugado aos Estados Unidos”.
O deputado ainda relembrou o escândalo da compra de
votos para promover a reeleição de FHC, nos anos 1990. “Agora ele está
falando em entrevistas que não teve nada (de corrupção) no
governo dele. Não. Tem deputados que disseram que receberam R$ 200 mil
para votar pela reeleição. Mas nunca houve uma CPI, porque eles tinham a
maioria e a mídia não queria”, observou.
4. PSDB representa o retrocesso
Foto: Arte Terra
Aécio Neves e o PSDB representam um retrocesso para o
Brasil, afirmou Valente. Após o 1º turno, quando Luciana Genro ficou em
4º lugar na disputa presidencial, o PSOL declarou que não apoiaria Dilma
ou Aécio, mas aconselhou os militantes a não votarem, de forma alguma,
no tucano.
“O Aécio realmente está fora, nós o renegamos e deixamos
as opções”, explicou. “Esse foi o acordo possível dentro do PSOL para
unificar o partido, pois a nossa visão é de que o Aécio representa um
retrocesso maior. E isso não quer dizer que vamos ser base de governo da
Dilma, que vamos renunciar ao nosso programa ideológico de esquerda.
Segundo turno é outra eleição. No fundo, é essa questão do que é ‘menos
pior’ mesmo”.
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5. Voto nulo não se aplica à disputa entre Dilma e Aécio
Foto: Paulo Whitaker/Reuters
O voto nulo ou em branco é um assunto que causa muitas
divergências, já que alguns defendem essa forma de expressão, e outros
não. Para Valente, essas duas opções são legítimas, mas não na disputa
específica entre Dilma e Aécio. “Acho que (o voto branco ou nulo)
é válido, que é legítimo como qualquer um dos outros votos. Quando você
tem que escolher entre candidatos muitos ruins, você pode votar nulo ou
em branco”, comentou.
O deputado, no entanto, ressaltou que esse não é o caso da eleição presidencial deste ano. “Quem acha que eles são iguais (Dilma e Aécio),
não conhece. Por exemplo, eu acho que o PT foi omisso na luta contra o
ruralismo, mas a Dilma, mal ou bem, chegou a vetar algumas coisas.
Alguns deputados (do PT) eram mais combativos, outros menos, outros se abstiveram. Diferente dos outros, que eram da direita mesmo”.
Segundo Valente, por mais que Dilma não tenha realizados
avanços importantes como a reforma agrária, o diálogo com o governo do
PT é mais aberto. “É melhor você ter um Ministro da Justiça com quem
você tenha diálogo, que é sujeito às pressões, do que um Ministro da
Justiça da extrema direita, que fecha todas as portas”, ressaltou.
6. Joaquim Barbosa não será Ministro de Aécio
Foto: Arte Terra
Joaquim Barbosa ganhou popularidade ao assumir a
relatoria de casos de corrupção, como presidente do STF (Supremo
Tribunal Federal). Na época em que anunciou sua aposentadoria, em julho
deste ano, o jurista foi apontado como um possível Ministro da Justiça
de Aécio - rumor que o próprio tucano desmentiu. Para Valente, é
improvável que Barbosa seja nomeado para esse cargo em um eventual
governo do PSDB.
“O Joaquim Barbosa faz uns tiroteios pra lá e pra cá,
inclusive contra a mídia. Ele é um cara que às vezes faz todo o jogo que
a direita gosta, tanto que a (revista) Veja deu 10 capas pra ele”, disse. “Mas ele é um cara totalmente imprevisível, uma pessoa confusa. Acho que eles (PSDB) vão colocar um sujeito confiável pra eles, um jurista conservador”.
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7. Bolsa Família: quem é contra não sabe o que é miséria
Foto: Governo de Alagoas/Divulgação
O Bolsa Família é um programa amplamente criticado por
eleitores das classes alta e média, em especial das regiões Sul e
Sudeste. Segundo relatório divulgado em março pelo Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o programa reduziu em 89% o
número de cidadãos em situação de pobreza extrema nos últimos 10 anos.
Para Valente, o Bolsa Família é uma proposta válida
“para um país de excluídos como o Brasil”. “Quem afirma que é só uma
esmola ou uma forma de cooptação, não entende o que é a pobreza e a
miséria”, completou. “O Bolsa Família atende hoje 53 milhões de pessoas e
deve gastar entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões. Isso não é nada frente
ao que pagamos de juros e amortização da dívida”.
8. Marina Silva assumiu discurso sem conteúdo
Foto: Divulgação
A morte do candidato à Presidência do PSB, Eduardo
Campos, impulsionou a atenção do eleitor sobre Marina Silva, que assumiu
o posto e ficou em 3º lugar no 1º turno das eleições. Ela, que foi
filiada ao PT e que costuma assumir um perfil progressista, surpreendeu
ao declarar apoio a Aécio Neves, que possui pontos divergentes dos que
ela defendia, como ser contra a redução da maioridade penal. Para
Valente, Marina assumiu um discurso vazio.
“O depoimento da Marina apoiando o Aécio é absolutamente
vazio, sem conteúdo. Ela falou que precisamos de alternância no poder,
mas desde quando? Então, deveria ter essa alternância em São Paulo, pois
já são 20 anos (de governo do PSDB). O problema não é a alternância, é o projeto do que se deve alternar”, opinou.
“O Aécio é mudança, mas, nesse caso, é mudança para
pior. É a mudança mais à direita, mais neoliberal, mais privatista, mais
repressiva, mais pró-agronegócio, mais pró-bancos, mais privatizante
sob todos os aspectos, mas com uma áurea de mudança”, continuou. “O
discurso dela demonstrou uma falta de clareza e de propostas efetivas.
Ninguém fala que é o novo, sem dizer onde é novo”, completou Valente, ao
se referir à “nova política” defendida por Marina.
9. Após 24 anos, Suplicy absorveu desgaste do PT
Foto: Taba Benedicto/Futura Press
Eduardo Suplicy saiu do Senado após 24 anos no cargo,
ficando em segundo lugar na concorrência para o cargo em São Paulo,
atrás de José Serra (PSDB). Para Valente, houve um desgaste na imagem do
petista. “Acho que o Suplicy absorveu o desgaste do PT. E também, mesmo
que ele tenha tentado o tempo todo se diferenciar em várias questões,
como a presença em movimentos, manter o perfil ético claro, isso não foi
o suficiente para tirar a marca petista e a rejeição que ela teve”.
Valente ainda afirmou que, além do desgaste do PT ter influenciado na eleição, também houve uma ampla ação do PSDB. “Eles (PSDB) controlam
350 prefeituras no interior, milhares de vereadores, muito dinheiro.
Então, a máquina do PSDB elege, tanto que elegeu deputados com 200, 300
mil votos”.
10. São Paulo está cada vez mais conservador
Foto: Alexandra Martins/Agência Câmara
Apesar de as pesquisas já apontarem para a reeleição de
Geraldo Alckmin (PSDB) como governador de São Paulo, muitos eleitores
paulistas ficaram espantados com a bancada conservadora que acompanhou a
escolha do tucano. Para deputado federal, Celso Russomano (PRB) foi o
líder entre a preferência no Estado, seguido por nomes também da direita
tradicional, como Pastor Marco Feliciano (PSC), e Bruno Covas (PSDB).
No caso das eleições para deputado estadual, os três
primeiros mais votados foram do partido tucano, entre eles o militar
Coronel Telhada, da chamada “bancada da bala”, que ficou em terceiro no
ranking, ao receber mais de 250 mil votos.
Para Valente, a preferência dos eleitores paulistas está
ligada à sensação de insegurança frente à criminalidade, o que faz com
que muitas pessoas acabem optando por um candidato militar. Segundo o
deputado, no entanto, a bancada da bala não age na raiz do problema da
segurança pública, pois, além de ser truculenta e repressora com o
cidadão, também se limita ao senso comum em suas propostas.
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“O
senso comum é a solução imediata. E a solução imediata é mais polícia:
mais polícia mantém a estrutura, que quer dizer manter a hierarquia
militarizada, que vem da ditadura militar. A nossa proposta foi e é
clara: a desmilitarização e a unificação das polícias. Em uma lógica de
proteção, de modo que a polícia não veja o cidadão como inimigo ou
oponente, que precisa ser combatido”, observou.
11. Não é possível investigar corrupção em São Paulo
Foto: Thiago Bernardes/Frame Photo
Valente, que foi duas vezes deputado estadual em São
Paulo, afirmou que é mais fácil abrir uma CPI em nível nacional do que
no Estado paulista, que está sob o governo do PSDB há 20 anos. “Você não
consegue investigar denúncias de corrupção, como foi a do metrô e
tantas outras”, disse. “Há décadas você não consegue fazer uma CPI sobre
a violência policial, ou mesmo sobre a situação da escola pública no
Estado de São Paulo”, completou. “Aqui no Estado existe uma cortina”.
12. Direita se aproveitou das manifestações de junho
Foto: Gabriela Biló/Futura Press
Em junho de 2013, as ruas foram tomadas por
manifestações, inclusive de pessoas que nunca haviam sido ligadas a
movimentos sociais. Um dos pontos que culminou a mobilização - que
começou com protesto contra o aumento da tarifa de ônibus - foi quando a
mídia noticiou a agressão de policiais contra manifestantes pacíficos
e membros da imprensa.
Mas apesar da onda de protestos, os paulistas reelegeram
Alckmin, que foi o responsável por permitir a conduta violenta da
Polícia Militar, já que esta é subordinada ao Governo do Estado. Para
Valente, o balanço das manifestações de junho ainda não foi feito, mas a
contradição do eleitorado paulista aconteceu porque muitas pessoas
foram às ruas sem saber exatamente o que defendiam.
“A inundação das ruas não se deu necessariamente com
bandeiras definidas de mudança, transformação e de esquerda. Houve uma
apropriação de algo difuso, e esse algo difuso apareceu nas urnas agora.
Ou seja, a direita já estava presente nas grandes manifestações,
particularmente aqui em São Paulo”, analisou o deputado.
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13. Corruptos também são contra a corrupção
Foto: Mauro Pimentel/Terra
A bandeira “contra a corrupção” tomou conta das ruas nas
manifestações de junho. Segundo Valente, esse é um ponto delicado ao
analisar os manifestantes, já que a direita conservadora também utiliza a
bandeira “contra a corrupção”. Para ele, muitos desinformados acabaram
assumindo um discurso conservador sem nem mesmo perceber, chegando a
reprimir outros ativistas que portavam bandeiras de partidos, como
exemplo.
“Todo mundo é contra a corrupção, mas essa é uma
bandeira histórica da direita. Eles são corruptos e lutam contra a
corrupção. O Golpe de 64 teve o elemento corrupção e subversão. Eles
estão sempre com essa bandeira na mão, como se os tucanos fossem
lindinhos e o (esquema de corrupção do PSDB) valerioduto não tivesse nascido no governo deles, ou o Fernando Henrique não tivesse comprado votos para a reeleição”, disse.
14. Pressão para reforma política precisa vir do povo
Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Durante as manifestações de junho, Dilma foi a público
propor “cinco pactos em favor do Brasil”, entre eles um plebiscito por
uma constituinte para uma ampla reforma política. A iniciativa, que
acabou sendo deixada de lado, seria um avanço real na democracia
brasileira e mudaria a forma como a política é feita no País,
extinguindo, por exemplo, o financiamento privado das campanhas
eleitorais. Para Valente, a medida só acontecerá por meio da pressão
popular.
“Acho que a reforma política só vai acontecer de baixo
para cima”, disse. “A lógica de fazer política deles é uma lógica de
interesses, então você é financiado, e depois você paga”, continuou, ao
comentar sobre a troca de favores entre partidos políticos e grandes
empresas.
“A reforma política só vai sair quando o povo entender
que ela é uma necessidade objetiva”, disse Valente, ao destacar pontos
como o fim das coligações partidárias e a valorização dos partidos, e
não das personalidades. “O Bolsonaro é do PP, o Russomano é do PRB, e
ninguém sabe. O que é PRB? Não tem programa, não tem projeto, não tem
ideologia”.
15. Bancada religiosa impede avanços
Foto: Reuters
Segundo Valente, a forte presença da bancada religiosa
no Brasil impede o avanço de temas como a descriminalização do aborto.
“A discussão central disso é o Estado laico. A religião não pode
comandar a vida das pessoas, e isso vale pra tudo. A questão do aborto,
por exemplo, é um direito da mulher, em nossa opinião. Nenhuma mulher
quer sair fazendo abortos, pensar assim é uma estupidez. São 3 milhões
de abortos clandestinos, com sequelas correspondentes, porque o sistema
público não atende”.
Para o deputado, todos os cidadãos têm o direito a ter
uma opinião pessoal sobre o aborto, mas suas convicções religiosas não
devem interferir na lei. “É toda uma discussão filosófica que o cidadão
pode resolver. Por que os países europeus, através de plebiscitos, já
fizeram isso? Até na Itália, que é o país do centro do catolicismo”.
Valente acredita que, assim como a reforma política, a
descriminalização do aborto só será possível com ampla mobilização
popular. “A questão (de ser favorável ao) aborto cresce com o
número de mulheres que trabalham e estudam, com o feminismo, ou nem
mesmo com o feminismo, mas com a questão do direito que a mulher tem
sobre o seu corpo. Isso pode ir melhorando as condições (para a conscientização em massa).
Aos poucos essa ideia vai sendo trabalhada. Mas se depender do
Congresso, não vai acontecer, porque eles não vão contra o senso comum”.
16. Luta contra a bancada conservadora
Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
Para finalizar, Valente afirmou estar preparado para
travar lutas contra a bancada conservadora eleita para o Congresso. Para
ele, a questão principal será em torno da PEC 215, que destina apenas
ao Legislativo o direito de demarcar áreas indígenas ou de proteção.
“A
questão ambiental continuará presente. Nosso mandato teve apoio dos
ambientalistas mais envolvidos com as grandes entidades. Estaremos à
frente das principais lutas, não temos uma visão monotemática”, disse.
“Os direitos humanos serão a nossa pauta, ainda mais com essa
‘direitona’ que estará lá”.